A "chatice"
Posted October 20th, 2008 at 3:37 pm1 Comment
Diogo Belford Henriques (DBH) comenta, num post no 31 da Armada, este meu post sobre as sondagens à boca das urnas nos Açores.
DBH confunde várias coisas, a saber:
1. “Porque (sic) foram os resultados das eleições de ontem diferentes da sondagem (Eurosondagem, não CESOP)?”
O meu post não tem a ver com esse assunto. O meu post tem a ver com o facto da realização de sondagens nos Açores introduzir dificuldades diferentes (e superiores) à realização de outro tipo de sondagens eleitorais, mesmo que sejam sondagens à boca das urnas (e, por isso, livres dos problemas trazidos pela abstenção não declarada e pela medição de intenções e não comportamentos).
2. “Ao contrário do que diz o Pedro Magalhães, é possível ir a todas as ilhas”
Ao contrário do que sugere DBH, nenhum meio de comunicação social está disposto a pagar o que seria necessário pagar para que um instituto de sondagens pudesse realizar trabalho de campo presencial em todas as ilhas dos Açores, dispondo assim de uma amostra representativa dos – neste caso – votantes em todo o arquipélago e evitando assim ter de estimar alguns resultados por extrapolação, com todo o risco e incerteza que isso implica. A não ser que DBH esteja a querer dizer que é possível ir a todas as ilhas, ou seja, que há meios de transporte para lá chegar caso se queira lá ir. Mas se é isso, La Palisse estará contente na sua tumba.
3. “É possível telefonar (se não puder ir) a eleitores em todas as ilhas”
Quando DBH me explicar como é que se fazem sondagens à boca das urnas pelo telefone, eu ficar-lhe-ei eternamente grato.
4. “É possível ler na internet os jornais e rádios de cada ilha e conhecer as notícias e a política local (…) Mas implica trabalho.”
Não, não vou dizer que não é possível ler rádios. Mas vou dizer que qualquer organização tem de ponderar os recursos de que dispõe e os benefícios que tenciona recolher do seu investimento. E vou dizer também que, por muito investimento que se faça, é muito mais fácil a alguém que conhece a política nacional e algumas “políticas locais” saber onde procurar informação e interpretá-la correctamente do que a alguém que não as conhece. O meu post era uma confissão de ignorância. Fizemos investimento para compensar essa ignorância (que nos permitiu perceber, entre muitas outras coisas, que os resultados que estávamos a captar do CDS eram credíveis) mas esse investimento daria sempre, em comparação com o que fizéssemos noutros contextos com os quais temos maior familiaridade, menos retornos.
5. “É possível que os “pequenos partidos” decidam livremente e consigam ter bons candidatos em nove ilhas.”
Sim, é possível. E?
E parece que a palavra “chatice” também foi mal interpretada. Foi usada no sentido de dizer que as eleições nos Açores, por razões que já devem ser óbvias, nos colocam problemas maiores que as outras. Mas não é “chato” trabalhar nos Açores. Faz-se o que se gosta e, ainda por cima, aprende-se. E não é chato ir aos Açores. São lindos. Têm uma pessoa ou outra um bocado obtusa. Mas isso é coisa que também há (se calhar até mais) no Continente.
P.S- Dou-me conta que a única parte do post que não comentei foi o parágrafo final. Mas essa é a única parte do texto que me parece verdadeiramente mal-intencionada, pelo que nem vale a pena comentar.
Caro Pedro Magalhães,
1-De facto existe um desvio positivo em todos os partidos excepto no caso do PS.
Mas se repararmos o excesso de 4% estimado para o PS, este supera largamente (1.6%) a soma das diferenças para os outros partidos. Logo grande parte do problema reside mesmo na performance dos pequenos partidos. O caso do PPM no Corvo é um exemplo.
2- Quanto à informação disponibilizada nos media locais, tenho muitas dúvidas se estas poderiam indicar com seriedade uma tendência de voto. Nem sempre a mediatização e a acessibilidade de um candidato aos media locais é proporcional às reais intenções de voto por parte da população. Há provincianismos dificilmente perceptíveis aos forasteiros.
Poderiam induzir em erro e não justificar os gastos extra de sondagem…
3- A elevada abstenção pode ter favorecido os pequenos partidos, eventualmente mais assertivos fora dos “centros urbanos”. Esta abstenção, tambem ela dificil de prever, deve ter posto em causa a amostragem (que deve ter seguido critérios semelhantes às eleições anteriores).
De qualquer modo, a sondagem pareceu-me bastante positiva (basta olhar para o que se passou nas primárias nos EUA, para ver que este foi um bom trabalho)
Continue!
Helena