Já agora, lembro-me de há uns anos anunciar neste blogue a chegada à blogosfera de vários cientistas políticos. Mas com Bartels e Erikson, chegámos finalmente ao topo da cadeia alimentar.
Olá João. A hipótese nula é a de que não há mudanças nos últimos 38 dias. As convenções são antes. Mas mesmo que fossem durante, não seria um teste completamente irrazoável, especialmente tendo em conta que os efeitos de uma e outra se dissiparam tão rapidamente.
Mas o facto desses efeitos dissiparem rapidamente contraria (ao invés de justificar) a tese segundo a qual as mudanças reais são lentas, e que a evolução que se “vê” pelas sondagens é um mero artefacto estatístico.
Acho que a única coisa que o Erikson quer demostrar é os diferentes resultados observados nas sondagens na fase final da campanha, frequentemente intepretados como indicando mudanças num sentido ou noutro, estão dentro daquilo que se poderia esperar caso não tivessem ocorrido quaisquer mudanças nas intenções dos eleitores, tendo em conta que estamos a medir esses preferências com amostras. Se assim for, a hipótese nula tem de ser a ausência de mudanças reais nas preferências dos eleitores, contra a qual tem de ser testada a hipótese de que essas mudanças ocorreram de facto. E o que Erikosn sugere é que a hipótese nula de ausência de mudanças reais nas preferências não pode ser rejeitada com base nos dados disponíveis. Não vejo como esta questão concreta poderia ser formulada de outra maneira. Portanto, isto não é uma teoria sobre se mudanças existem ou não, a sua lentidão ou velocidade. É apenas uma constatação sobre os dados disponíveis, o grau de incerteza sobre as inferências descritivas permitidas pela sondagens e o facto desse incerteza impedir a detecção de supostas mudanças. Será que estou a ver bem?
O sentido daquilo que escrevi é o seguinte: a tese de que a evolução que estamos a “ver” nas sondagens se deve apenas a artifícios estatísticos é arrojada. A tese de que os dados não permitem desmentir esta hipótese nem tanto.
Eu talvez tenha assumido que o autor, ao defender a segunda, estivesse a também a propôr a primeira. Uma forma de alusão à navalha de Occam, digamos.
Creio que essa assunção se baseiou na minha interpretação de «True change in preferences occurs slowly, especially during the final weeks of a campaign.»
A minha intuição (vi várias sondagens mas não fiz contas nenhumas) dir-me-ia que a primeira hipótese é errada. Os bounces das convenções (fora dos 28 dias, mas mostrando que a evolução pode ser relativamente rápida) seriam um indício, mas haveriam outros (a ligeira subida de Obama após debates que alegadamente ganhou, etc..)
Os gráficos que comparam a percentagem de votos nas diferentes semenas são muito interessantes, mas não contrariam esta intuição, se assumirmos que “a priori” a evolução não tem um sentido previligiado (embora curiosamente já tenha lido algures que a evolução tendia no sentido de atenuar a vantagem do vencedor).
Deve ser ignorância minha, mas não creio que a “hipótese nula” exposta no artigo de Robert Erikson faça muito sentido.
Ela parece-me incompatível com os “bounces” associados às convenções democratas e republicanas.
Olá João. A hipótese nula é a de que não há mudanças nos últimos 38 dias. As convenções são antes. Mas mesmo que fossem durante, não seria um teste completamente irrazoável, especialmente tendo em conta que os efeitos de uma e outra se dissiparam tão rapidamente.
Escapou-me que fossem só os últimos 38 dias.
Mas o facto desses efeitos dissiparem rapidamente contraria (ao invés de justificar) a tese segundo a qual as mudanças reais são lentas, e que a evolução que se “vê” pelas sondagens é um mero artefacto estatístico.
Acho que a única coisa que o Erikson quer demostrar é os diferentes resultados observados nas sondagens na fase final da campanha, frequentemente intepretados como indicando mudanças num sentido ou noutro, estão dentro daquilo que se poderia esperar caso não tivessem ocorrido quaisquer mudanças nas intenções dos eleitores, tendo em conta que estamos a medir esses preferências com amostras. Se assim for, a hipótese nula tem de ser a ausência de mudanças reais nas preferências dos eleitores, contra a qual tem de ser testada a hipótese de que essas mudanças ocorreram de facto. E o que Erikosn sugere é que a hipótese nula de ausência de mudanças reais nas preferências não pode ser rejeitada com base nos dados disponíveis. Não vejo como esta questão concreta poderia ser formulada de outra maneira. Portanto, isto não é uma teoria sobre se mudanças existem ou não, a sua lentidão ou velocidade. É apenas uma constatação sobre os dados disponíveis, o grau de incerteza sobre as inferências descritivas permitidas pela sondagens e o facto desse incerteza impedir a detecção de supostas mudanças. Será que estou a ver bem?
Olá!
«Será que estou a ver bem?»
Imagino que sim, eheh.
O sentido daquilo que escrevi é o seguinte: a tese de que a evolução que estamos a “ver” nas sondagens se deve apenas a artifícios estatísticos é arrojada. A tese de que os dados não permitem desmentir esta hipótese nem tanto.
Eu talvez tenha assumido que o autor, ao defender a segunda, estivesse a também a propôr a primeira. Uma forma de alusão à navalha de Occam, digamos.
Creio que essa assunção se baseiou na minha interpretação de «True change in preferences occurs slowly, especially during the final weeks of a campaign.»
A minha intuição (vi várias sondagens mas não fiz contas nenhumas) dir-me-ia que a primeira hipótese é errada. Os bounces das convenções (fora dos 28 dias, mas mostrando que a evolução pode ser relativamente rápida) seriam um indício, mas haveriam outros (a ligeira subida de Obama após debates que alegadamente ganhou, etc..)
Os gráficos que comparam a percentagem de votos nas diferentes semenas são muito interessantes, mas não contrariam esta intuição, se assumirmos que “a priori” a evolução não tem um sentido previligiado (embora curiosamente já tenha lido algures que a evolução tendia no sentido de atenuar a vantagem do vencedor).