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Pedro Magalhães

"Modernidade" vs. "os pilares da sociedade"

O PS parece apostado em descrever o PSD e a sua actual liderança como um partido conservador no plano dos valores. Perante uma audiência “jota”, Sócrates disse, segundo o Público, “que portugueses vão escolher entre modernidade ou uma mundivisão retrógrada“. Sobre estes assuntos, no programa, o PSD tende a ser omisso. Muitas referências à família “como célula básica da nossa estrutura social”, menção com significado claro para quem lê com olhos de ver, mas não há aqui nenhum cavalo de batalha, possivelmente até porque o PSD não considera estes assuntos prioritários para o país.

Bem, mas não será só isso. É natural que o PS se volte para estes temas e que o PSD não esteja propriamente entusiasmado em tê-los na campanha. Tomemos como indicador – certamente parcial – das opiniões sobre estes temas a posição dos eleitores sobre os direitos dos casais formados por pessoas do mesmo sexo. Num inquérito de Outubro de 2008, feito pelo CESOP, perguntava-se aos inquiridos se concordavam com o acesso desses casais ao casamento civil em condições iguais aos dos casais heterossexuais e, em caso negativo, se defendiam a ausência de qualquer reconhecimento legal, a manutenção do regime actual (mero reconhecimento de uniões de facto) ou a possibilidade de uniões civis (sem serem casamentos).

Se tomarmos a última opção, assim como a defesa do casamento, como representando apoio a uma mudança do statu quo, eis como se distribuem os grupos de simpatia partidária:

% de inquiridos que defendem casamento ou união civil entre pessoas do mesmo sexo:
PS: 59%
PSD: 48%
Sem simpatia partidária: 61%

Ou seja: apesar de ambos os partidos estarem divididos, ao introduzir este tema na agenda política, o PS tenta presumivelmente encostar o PSD a uma posição (“conservadora”, chamemos-lhe assim) de manutenção do statu quo, que divide os seus simpatizantes, ao passo que defende posição maioritária quer entre os seus simpatizantes quer entre os “independentes”.

Claro que uma resposta possível do PSD seria a de, por exemplo, pagar ao PS na mesma moeda e descrevê-lo como “radical” e “extremista” quando defende o “casamento” para pessoas do mesmo sexo, por exemplo. E isto porque, quando voltamos a olhar para os mesmos dados, vemos que o casamento propriamente dito suscita as seguintes reacções:

% de inquiridos que defendem casamento entre pessoas do mesmo sexo:
PS: 47%
PSD: 29%
Sem simpatia partidária: 45%

Assim, quando o assunto é tematizado nestes termos, é o PS, e não o PSD, que parece mais dividido.

Contudo, percebe-se que o PS insista. Outra coisa que era perguntada no mesmo estudo era se “um partido que tenha sobre este assunto uma posição diferente da sua é um partido onde nunca votaria ou poderia, mesmo assim, votar nesse partido”. Eis as respostas:

% de inquiridos que afirmam que “nunca votariam” num partido com uma posição diferente da sua neste tema:
PS: 37%
PSD: 47%
Sem simpatia partidária: 37%

Ou seja, parece ser (mesmo que marginalmente) mais fácil para o PSD perder eleitores com a posição “errada” sobre estes assuntos do que para o PS. Já agora, para os eleitores do Bloco e do CDS-PP, os resultados são, previsivelmente, semelhantes aos do PSD: 45 e 48%, respectivamente. Mas BE e CDS-PP não correm riscos de terem posições “erradas” sobre estes assuntos: mais de 70% dos eleitores do BE são a favor do casamento e mais de 80% dos eleitores do CDS-PP são contra. E claro, o PS está também a pensar nos eleitores do Bloco quando coloca o tema no centro da agenda.

Assim, para ou bem ou para mal, parece fazer sentido esperar mais disto até ao dia 27 de Setembro por parte do PS. O PSD é que terá de decidir se alinha (“diluíram-se pilares da sociedade como a família e o casamento”) ou não. Não parece muito sensato alinhar e, num sistema puramente bipartidário, o PSD deveria fugir disto como o diabo da cruz. Mas, claro, há o CDS-PP à espreita, etc. O multipartidarismo é mesmo uma coisa complicada.

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