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Pedro Magalhães

Um guia para os perplexos

“Como é possível que a coligação governamental possa chegar a estas eleições sem ser castigada eleitoralmente?”

A coligação vai ser castigada eleitoralmente. Vamos imaginar que no dia 4 tinha os 38% que o agregador do Popstar lhe dá neste momento. Presumindo que a participação eleitoral não muda muito de 2011 para 2015, isto implicaria que a coligação perderia 700.000 votos, 1 em cada 4 dos votos de 2011. Desde 1974, PSD+CDS só tiveram menos em conjunto nas eleições de 2005. Perdas acima dos 12 pontos percentuais para um governo só tivemos de 1983 para 1985 para os partidos do Bloco Central (mas isso foi no ano do PRD), de 1991 para 1995 para o PSD, e de 2002 para 2005 para a coligação PSD/CDS. Claro que, se tiver algo mais perto dos 41% que a Católica lhe atribui neste momento, as perdas serão menores. Mas mesmo assim seriam cerca de 550.000 votos, 1 em cada 5 dos de 2011.

“OK, mas mesmo assim como é possível que a coligação tenha hipótese de ganhar esta eleição, depois de quatro anos de austeridade?”

Quatro anos de austeridade sob este governo talvez seja esticar um pouco a coisa. A medida convencional de ajustamento orçamental é a mudança no défice estrutural, o défice calculado em relação ao PIB potential, retirada a componente cíclica (sei que há controvérsias mas para este efeito não fazem grande diferença). A evolução ao longo dos últimos anos na Europa do Sul foi descrita há pouco tempo num artigo da Bloomberg:

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Primeiro, note-se que a austeridade já vinha de 2009 para 2011. Segundo, sendo certo que se acentua claramente de 2011 para 2012, desacelera de novo até 2014 e – surpresa – inverte de 2014 para 2015, segundo as previsões. O FMI anda-se a queixar há uns tempos, mas o PM já explicou que são uns grandes pessimistas.

“OK, mas isso é demasiado abstracto. As medidas tomadas inicialmente geraram mesmo assim uma espiral recessiva, não foi?”

Não, não foi. O gráfico abaixo mostra, no eixo y da direita, a taxa de desemprego (fonte). A partir de Fevereiro de 2013, o desemprego começa a descer.

polls and unemployment

Do lado direito vemos as intenções de voto do conjunto PSD+CDS (até Maio) e da coligação pré-eleitoral PSD/CDS (a partir daí). Os partidos de governo perdem continuamente até Setembro de 2012, perdem ainda mais de forma súbita nesse mês (toda a gente sabe porquê), atingem o ponto mínimo em Julho de 2013 (também toda a gente sabe porquê), e a partir daí mantêm-se mais ou menos estáveis. Não deve ser um acaso.

Podemos também olhar para o crescimento do PIB (por trimestre, real, em relação ao trimestre anterior, fonte) e veremos mais ou menos o mesmo:

polls growth

“OK, mas as pessoas não andam a ver dados económicos em sites do Eurostat ou do BCE. O que importa é a percepção que têm, e essa não melhorou.”

Melhorou sim, pouco mas melhorou. O gráfico abaixo mostra o valor médio das respostas à pergunta “Como avalia a situação actual da economia portuguesa”, numa escala de 1 (muito má) a 4 (muito boa), do Eurobarómetro. De Novembro de 2013 para Junho de 2014 subiu, e continuou a subir.

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Vê-se o mesmo quando se olha para a resposta à pergunta “Quais são as suas expectativas para os próximos doze meses: os próximos doze meses serão melhores, piores ou iguais, no que diz respeito à situação económica em Portugal?” (fonte).

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E vê-se também quando se olha para a confiança do consumidor (fonte):

polls consumer

Em suma, a coligação sangra até Julho de 2013, mas a partir daí estanca. Na verdade, a pergunta que apetece colocar é por que razão a coligação não recuperou mais. Não sei a resposta a essa. O desemprego melhora, mas sabemos que em parte devido à criação de emprego e em parte devido à emigração e emprego precário. O crescimento foi positivo, mas modesto. As percepções da economia a a confiança do consumidor melhoraram, mas ainda estão do lado negativo. O primeiro ministro e o vice-primeiro ministro continuam extremamente impopulares (se encontrarem no país cartazes onde eles aparecem digam, sim?). A confiança no governo aumentou, mas continua a níveis muito baixos. Os pensionistas são uma parte muito importante do eleitorado do PSD, mas foram um alvo preferencial. Etc. Eu não sei a resposta, mas aqui o que importa é que a pergunta certa talvez não seja bem a que muita gente tem colocado.

“OK, mas mesmo com isto tudo, o PS chegou a ter as eleições na mão. Como é possível que esteja em risco de as perder?”

A pergunta aqui também parte de um pressuposto errado. O gráfico abaixo mostra a evolução das estimativas do agregador de sondagens no Popstar, nomeadamente de intenção de voto no PS, na coligação (ou soma PSD+CDS) e a diferença entre as duas:

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O PS foi recuperando apoio ao longo da legislatura até à segunda metade de 2013. Perdeu apoio durante a luta interna pela liderança, e voltou a recuperá-lo. Mas a maior margem que o PS alguma vez teve sobre a coligação foi de 3 (três) pontos, durante breves períodos, durante as lideranças quer de Seguro quer de Costa. A última vez foi no fim de Julho de 2015. O PS nunca teve estas eleições na mão. Ou melhor: só as esteve enquanto a PSD e CDS não tinham ainda decidido ir juntos a eleições. Ou seja, vendo bem, nunca teve.

“Mas então, o que tem impedido o PS de subir?”

Não sei. Parte da resposta já teremos visto: o que impede o PS de subir será em parte o mesmo que impede a coligação de descer. Quanto ao resto, só posso oferecer um pouco de especulação informada. Em 2011, no estudo pós-eleitoral do ICS, quase dois em cada três eleitores, e metade dos que simpatizam com o PS, diziam que o PS era “muito” ou “extremamente responsável” quer pela situação da economia nessa altura quer pelo resgate. Veremos no inquérito pós-eleitoral de 2015 em que medida isto ainda é verdade, mas é possível que uma coisa destas não se desfaça facilmente. O caso britânico mostra que há momentos históricos em que se instalam “gaps” na percepção de competência económica entre partidos, que esses “gaps” demoram muito tempo a ser vencidos e que, no caso britânico, esse “gap” instalou-se com a crise económica a favor dos Conservadores e ampliou-se com os primeiros sinais de retoma em 2013. Em Portugal as sondagens não perguntam nada disto (queixas aqui), mas é possível que tenhamos algo semelhante e que isso dite um “tecto” ao crescimento do PS que seria sempre difícil de vencer.

“Os resultados da eleição ainda podem ser diferentes daquilo que as sondagens têm estado a dizer?”

Claro. Ainda só conhecemos as últimas sondagens da penúltima semana de campanha. Em 2011, o PSD teve quase 39% na eleição, quase mais 4 pontos do que lhe davam as sondagens nessa penúltima semana. O PS teve 28%, quase menos 6 pontos do que lhe davam essas sondagens. Mudanças desse calibre, num sentido ou noutro, podem ou ampliar muito a vantagem da coligação ou, pelo contrário, anulá-la. Dito isto, não me recordo de eleições legislativas desde 1991 (antes disso não vale de todo a pena olhar para sondagens) em que um partido que estivesse à frente nesta altura tivesse perdido a eleição. Mas há sempre uma primeira vez para tudo.

Esta é uma história possível sobre esta legislatura. Outros contarão outras, focadas nas personalidades e actuação dos líderes, acidentes de campanha, discurso político, cobertura dos media, etc. Eu acho isso tudo perfeitamente legítimo. Mas esta é a história que eu acho que sei contar com alguma segurança. Qual é a vossa?

3 Comments

  1. […] as eleições e o seu desenvolvimento. E uma vitória já tiveram: não há sondagem que não dê, como demonstra Pedro Magalhães uma colossal perda de votos da direita, no entanto os estrategas do PAF construíram uma narrativa, cantada em couro pelas hordas de […]

  2. […] Excelente análise de Pedro Magalhães no seu Margens de Erro. […]

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