Recta final
Posted September 25th, 2009 at 6:06 pm2 Comments
Na última semana antes das eleições legislativas de 2005, numa 4ª feira, salvo erro, jantei com um grupo de colegas do ICS. Falou-se nas eleições e, a certa altura, alguém se lembrou de apostarmos um futuro jantar num restaurante à escolha na base dos melhores palpites para os resultados. O vencedor seria o que tivesse o menor desvio absoluto médio, assim que apurados os resultados dos 5 maiores partidos. Cada um escreveu os seus palpites numa pequena folha de papel. Depois, trocámos as folhas, comentámos os palpites de cada um, e fomos para casa. Estão a ver como é absolutamente fascinante a minha vida social?
A verdade é que nunca cheguei a cobrar esse jantar aos meus colegas. Eles ficaram a achar que eu tinha inside information, e tinham razão. À hora do dito jantar, já conhecia os resultados da última sondagem do CESOP. Mas o interessante – e suponho que até hoje eles não repararam – é que os meus palpites foram ligeiramente diferentes dos resultados da sondagem que foi divulgada no dia seguinte. Dei, no palpite, um pouco menos ao PSD e ao BE e um pouco mais ao CDS do que na sondagem. Achei que a campanha estava a correr tão mal a PSL que as coisas ainda iriam piorar nos dias seguintes ao trabalho de campo. Receei uma presumível propensão dos eleitores do BE para votarem “sincero” em sondagens e “útil” nas eleições ou mesmo para se desmobilizarem à última hora. Tive em conta o facto de o CDS-PP, em quase todas as eleições a que concorreu sózinho nos últimos anos, ir sempre em crescendo nas várias sondagens ao longo da campanha, presumindo assim que, na tendência, poderiam fazer melhor no final. Já não sei onde está a dita folhinha, mas recordo-me que, com estas “teorias”, acertei em cheio nos resultados. Mas as “teorias” não eram grande coisa: foi provavelmente mera sorte, porque das vezes seguintes que fiz a mesma brincadeira as coisas não correram tão bem.
Se conto a historieta é porque acho que ajuda a perceber a diferença entre aquilo que as sondagens dizem, dessa e desta vez, e aquilo que é uma previsão de um resultado eleitoral (neste caso um mero palpite pessoal). Intrigam-me sempre as pessoas que comentam aqui resultados de sondagens, por vezes ainda a meses das eleições, dizendo “já se sabe que o partido x vai ter mais” ou “é impossível que o partido y tenha isto nas eleições”. Se os meus amigos já sabem quais vão ser os resultados e se isso é a única coisa que vos interessa, então por que razão prestam atenção a meras sondagens? (Vão mas é brincar para aqui). Por outras palavras, se bem que não seja possível apurar isto neste momento, a diversidade de abordagens metodológicas das últimas quatro sondagens, conjugada com a similitude dos seus resultados, fazem-me supor que é improvável que não tenham medido com razoável precisão as intenções de voto dos portugueses no momento em que foram feitas (o único receio que tenho a esse respeito é que haja, comum a todas, uma propensão de determinado tipo de eleitor para ocultar as suas intenções, para recusar responder a sondagens ou para não ser encontrado no processo amostral). Mas daí até supor que os resultados do dia 27 vão ser iguais às sondagens vai um salto que, podendo perfeitamente ter por base inicial os resultados das sondagens – como eu tive na minha “previsão” de 2005 – pode ser muito arriscado.
De resto, os líderes partidários, pelas reacções que tiveram às sondagens, mostram que sabem isso perfeitamente: ninguém entrega os pontos, e todos utilizam uma retórica que visa mitigar (ou amplificar) aqueles que julgam ser os efeitos negativos (ou positivos) das próprias percepções criadas pelas sondagens no futuro comportamento dos eleitores. Sócrates diz que sondagens não ganham eleições e combate a “abstenção por certeza de vitória”. MFL e Jerónimo combatem a potencial desmobilização dos seus eleitores em face de resultados desfavoráveis. Louçã combate o voto útil no PS, tentando tornar o voto no BE útil para impedir uma putativa maioria PS. Portas usa-as para mobilizar os eleitores do CDS-PP e sugerir uma suposta “inutilidade” do voto no PSD. Em suma: eles acreditam que algumas coisas ainda podem mudar até dia 27, e estão a fazer o possível para que mudem. Tudo normal. É assim mesmo.
É claro, no entanto, que quaisquer especulações sobre o dia 27 podem repousar na relação entre o retrato feito a dias das eleições pelas sondagens das intenções de voto e aquilo que tende a suceder em eleições legislativas. E sobre isso, só tenho isto a dizer:
1. Com estes resultados medidos a menos de uma semana da eleição, se o PS perder, as eleições de 2009 vão-se tornar um estudo de caso apenas comparável ao que sucedeu no Reino Unido em 1992. O que teria uma vantagem, atraíndo para o país uma legião de cientistas políticos sem paralelo desde o PREC 🙂
2. No momento em que foram feitas, as sondagens vistas no seu conjunto (uma amostra agregada de 4925 inquiridos), sugerem que havia mais intenções de voto no BE do que no CDS-PP (2,3 pontos de vantagem para uma margem de erro de 1,2 pontos). Mas nem sequer são capazes de dizer se a margem do CDS-PP sobre a CDU (0,6 pontos) correspondia a qualquer coisa de real na inferência para a população. E dito isto, quem sabe se o BE volta a conseguir resistir a alguma desmobilização de última hora? Nas Europeias resistiu. E desta vez?
O resto seria pura especulação, e para isso vou ao Trocas. Em suma: larguem lá as sondagens e vão mas é votar em quem e como acharem melhor.
“1. Com estes resultados medidos a menos de uma semana da eleição, se o PS perder, as eleições de 2009 vão-se tornar um estudo de caso apenas comparável ao que sucedeu no Reino Unido em 1992. O que teria uma vantagem, atraíndo para o país uma legião de cientistas políticos sem paralelo desde o PREC :-)”
Achei muito curioso que tivesse sentido a necessidade de escrever isto. Premonições?
Não. Só para transmitir a dimensão da surpresa que seria uma vitória do PSD.