Rescaldo
Posted September 28th, 2009 at 12:08 amNo Comments Yet
As abordagens habituais para apreciar a relação entre os resultados da sondagens e os resultados das eleições são os erros 3 e 5 de Mosteller. No erro 3, calcula-se a média dos desvios absolutos entre resultados e estimativas. No erro 5, o desvio em relação à margem de vitória. A maneira mais rough and ready de fazer isto é esta (dado o adiantado da hora, espero não ter errado nas contas, mas sei que há leitores atentos que não deixarão de me avisar se for esse o caso, o que agradeço):
Os resultados, em geral, não chegam a ser tão bons como os de 2005 – a eleição com as sondagens mais próximas dos resultados eleitorais de sempre – mas não ficaram longe disso. Este foi, de resto, o segundo conjunto de sondagens legislativas pré-eleitorais que acabou por ficar mais próximo dos resultados desde 1991, inclusive.
Recordo que, nas Europeias, o erro médio andou entre os 2,5 e os 2,7 (e sobre o erro 5 melhor nem falar, dado que só a Marktest tinha sequer colocado o PSD à frente). Desta feita, os erros médios oscilam entre 0,9 e 2. Foi a Aximage que publicou a sondagem com o menor desvio absoluto médio, e o CESOP a que mais se aproximou da margem de vitória. Mas as diferenças são, na maior parte dos casos, muito curtas e sem significado. No que respeita ao erro 3, até o facto da Marktest ter ficado um pouco mais longe pode estar ligado ao facto de ter terminado o trabalho de campo mais cedo (21 de Setembro, em vez 22 no CESOP, 23 na Intercampus e 24 na Aximage) ou, eventualmente, ter a amostra mais pequena. Mas estas sondagens estiveram mais próximas dos resultados eleitorais que as de todas as legislativas recentes com excepção da de 2005. A média dos erros 3 foi, desta vez, de 1,4, e no caso do erro 5 foi 1,1. Em 1991, 1995, 1999 e 2002, a performance foi sempre pior dos dois pontos de vista (apesar de – importa notar – só a comparação entre 2002, 2005 e 20o9 ser inteiramente justa, dado que, antes disso, a publicação e o trabalho de campo tinham de terminar mais cedo).
Já que estamos nisto, para os puristas: na verdade, o cálculo do erro 3 da forma mais canónica possível exige algumas operações adicionais:
1. Recalcular as estimativas que estão a ser comparadas com resultados eleitorais (as dos 5 principais partidos) de forma que a sua soma dê 100%.
2. Arrendondar cada estimativa à unidade.
3. Comparar com o resultado do verdadeiro universo das sondagens pré-eleitorais, ou seja, os resultados do Continente, transformados de forma a que a soma das percentagens dos cinco principais partidos dê também 100%;
4. Apresentar e tratar os resultados reais com uma casa decimal.
Fica aqui só para memória futura, porque do ponto de vista substantivo não faz grande diferença:
Nas sondagens à boca das urnas, não vale a pena estar com estas minudências, dado que todos os institutos estarão, com toda a probabilidade, a projectar para o todo nacional. Tomando o ponto central dos intervalos como a melhor estimativa, ficamos com o seguinte quadro:
Aqui, curiosamente, a sobrestimação da margem de vitória do PS nas sondagens à boca das urnas foi maior que no caso das sondagens pré-eleitorais. Aliás, o mesmo já tinha acontecido em 2005. Mas em 2005, os erros 3 também foram maiores nas boca da urnas do que nas pré-eleitorais. Isso já não sucedeu desta vez.
Uma coisa para meditar, se me permitem: as pessoas e os institutos que fizeram estas sondagens foram as mesmas que, há poucos meses, fizeram as sondagens das Europeias. E os métodos que utilizaram sofreram poucas ou nenhumas mudanças. Logo, da mesma forma que não me parece ter havido razão para demonizar as sondagens após as Europeias, também não me parece sensato “embandeirar em arco” com estas. A razão pela qual estas sondagens pré-eleitorais estiveram muito mais próximas do resultado final do que as sondagens pré-eleitorais para as últimas Europeias não tem nada a ver com a aquisição recente de poderes mágicos por parte dos institutos ou com mudanças radicais nas metodologias utilizadas. Muito mais sensato é pensar que há qualquer coisa que caracteriza as eleições Europeias que faz com que haja sempre maiores discrepâncias entre os resultados das sondagens e os resultados dessas eleições. E um bom palpite para essa coisa é, como há muito tempo se sabe, a abstenção.
Também não é por causa do que se passou agora que as sondagens passam a ser previsões de resultados eleitorais. Não eram, não são, e não é por terem estado próximo agora ou em 2005 que passam a ser. São sondagens. Há casos em que o retrato tirado a vários dias das eleições se mantém razoavelmente fiel ao que se vem a passar depois. Há até casos onde as tendências verificadas ao longo das sondagens pré-eleitorais são bons indicadores para o que possa ocorrer depois dessas sondagens terem sido realizadas. Mas também há casos, e vai continuar a haver, em que isso não sucede. Espero que a comparação entre o que se passou nas Europeias e o que se passou agora acabe por ter, desta forma, algum valor pedagógico. Espero, mas a julgar pelo que vou lendo tenho a impressão que, mesmo assim, e até entre gente que acho inteligente, continuamos na mesma. O problema, lamento, não são as “percepções dos leitores”: o problema é quando aqueles que têm maiores responsabilidades na formação dos tais leitores correm para o pelourinho mais depressa do que eles.
Já agora: atenção ao que vem aí para as autárquicas. Uma das coisas que se sabe na literatura sobre a abstenção é que ela tende a ser maior em circunstâncias em que uma eleição foi precedida de outra eleição há pouco tempo ou quando se dá num quadro de frequentes eleições num curto espaço de tempo. “Fadiga eleitoral”, diz-se. Se isso se confirmar, todos os avisos sobre as dificuldades em usar as sondagens com elemento de previsão, apesar de repetitivos, serão sempre poucos.
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