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Pedro Magalhães

Sondagem da Católica para "Não Obrigada"

Paulo Pinto Mascarenhas menciona os dados de uma sondagem que a Universidade Católica conduziu no final de Setembro para a plataforma “Não Obrigada”. Na verdade, os resultados não são surpreendentes. Basta comparar com outra sondagem, com semelhante metodologia de amostragem e inquirição, que foi feita também pela Católica, apenas 15 dias depois. Ao contrário do que sucedeu com a sondagem para a RTP/RDP e Público, não fui eu o técnico responsável pela coordenação do trabalho para a “Não Obrigada”, apesar dos inquéritos terem, nalguns casos, questões muito semelhantes, o que se deve ao facto de ambos se terem parcialmente baseado num estudo anterior da Católica, por sua vez parcialmente inspirado em exemplos internacionais.

Os resultados divulgados pela “Não Obrigada”, e a comparação com a sondagem realizada posteriormente:

Sondagem “Não Obrigada”:
“O aborto devia ser permitido quando a mãe ou a família não têm meios para sustentar a criança”. Sim: 33%
Sondagem RTP/RDP/Público:
“O aborto devia ser legal quando a mãe ou a família não têm meios para sustentar a criança”. Sim: 34%

Sondagem “Não Obrigada”:
“O aborto devia ser permitido quando a mulher não quer ter o filho”. Sim: 32%
Sondagem RTP/RDP/Público:
“O aborto devia ser legal quando a mãe não deseja ter o filho” Sim: 29%

Os resultados apresentados pela “Não Obrigada” em relação a uma questão adicional já não são directamente comparáveis, dado que os menus de opções de resposta fornecidos eram ligeiramente diferentes: a sondagem para a “Não Obrigada” introduzia a opção “Desde o momento em que bate o coração”, ao passo que a sondagem RTP/RDP/Público introduzia uma opção “Não tenho opinião formada sobre o assunto”. Mas mesmo assim, aqui ficam os dados.

Sondagem “Não Obrigada”:
“Em sua opinião, quando é que começa a vida humana?”
Desde o momento da concepção: 54%
Desde o momento em que há actividade cerebral no feto:7%
Desde o momento em que o feto tem possibilidade de sobreviver fora da barriga da mãe: 7%
Desde o momento do nascimento: 15%

Sondagem RTP/RDP/Público:
“Na sua opinião, quando é que se pode dizer que começa uma vida humana?”
A partir do momento da concepção: 48%
A partir do momento em que há actividade cerebral:15%
A partir do momento em que há possibilidade de sobreviver fora da barriga da mãe: 8%
A partir do momento do nascimento: 8%

Uma nota final: apesar das semelhanças nos resultados, leio e releio a formulação das perguntas e das opções de resposta e reforço uma conclusão a que já tinha chegado há muito tempo: nos inquéritos, não há perguntas “neutras”. Nunca. Por muito que seja o esforço em evitar enviesamentos óbvios, todas introduzem estímulos diferentes, com potenciais efeitos nos resultados (efeitos esses, contudo, cuja existência real e dimensão são muito difíceis de apurar, devido a todas as outras fontes de erro associadas a uma sondagem). E obviamente, o mesmo sucede quanto à formulação das perguntas colocadas em referendos…

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