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Pedro Magalhães

“Indecisos” (2)

No post anterior falei um pouco dos ditos “indecisos” tal como captados pelas sondagens pré-eleitorais e das grandes discrepâncias entre centros de sondagens a esse respeito. Não foi a primeira vez que falei no assunto, e receio repetir-me. Por isso, de seguida, gostava de olhar para esta questão dos “indecisos” de outro ponto de vista.

Os inquéritos pós-eleitorais do ICS, realizados desde 2002, depois de colocarem aos inquiridos a questão sobre se votaram ou não na eleição, e de, aos que afirmam que sim, lhes perguntar em que partido votaram, colocam uma questão adicional:

“Quando decidiu em que partido votar nas legislativas de <mês> <ano> ?

1. No própria dia das eleições.

2. Na véspera.

3. Na última semana.

4. No mês antes da eleição.

5. Mais de um mês antes da eleição.”

Se separarmos aqueles que afirmam que já tinham decidido em quem votar mais de um mês antes da eleição dos que dizem ter decidido apenas no último mês e compararmos o seu comportamento de voto, ficamos com uma ideia de como a fase final da campanha influenciou os resultados, assim como da forma como se “arrumaram” pelas opções disponíveis os eleitores que só se decidiram nessa fase. É evidente que, em rigor, aqueles que dizem que decidiram a menos de um mês da eleição não se confundem com os “indecisos” das sondagens realizadas a menos de um mês da eleição, seja qual for a maneira como os tentemos medir: na verdade, é possível que muitos daqueles que se dizem indecisos nas sondagens acabem por não votar, e no inquérito concentramo-nos apenas naqueles que de facto votaram. E recorde-se que tudo isto se baseia em relatos das pessoas sobre os seus comportamentos num passado recente, matéria passível de muita racionalização. Contudo, na ausência de estudos de painel (que acompanhassem uma mesma amostra de eleitores ao longo do tempo), esta é, mesmo assim, a melhor aproximação ao potencial impacto na eleição dos “indecisos” (ou dos que dizem ter decidido mais tarde).

Os gráficos seguintes mostram a distribuição dos resultados eleitorais para os cinco principais partidos em cada eleição (Total), assim como as das recordações de voto daqueles que dizem ter decidido a mais de um mês e as dos que decidiram a menos de um mês de cada eleição, usando os inquéritos do ICS:

2002
2005
2009
2011

Há algumas conclusões possíveis:

1. Os que dizem ter decidido no último mês não se comportam de forma dramaticamente diferente dos que dizem ter decidido antes. Se o resultado final das eleições fosse determinado apenas pelos primeiros, os mesmos partidos teriam ganho as eleições em cada caso, e haveria apenas algumas mudanças nas posições relativas dos partidos mais pequenos. Isto é verdade até em 2002, a eleição mais renhida de sempre em Portugal: o PSD ganhou entre os que decidiram cedo, mas também entre os que decidiram mais tarde. Os ditos “indecisos” de final da campanha, em todas as eleições, não foram radicalmente diferentes no seu comportamento eleitoral.

2. Dito isto, há um padrão invariável. O PS, PSD e a CDU são mais fortes entre os que dizem ter decidido mais cedo do que entre os que dizem ter decidido no último mês. Isto é o mesmo que dizer que os eleitores que decidem mais tarde tenderam a apoiar desproporcionalmente o CDS-PP e o BE em todas as eleições sob consideração: 2002, 2005, 2009 e 2011. Uma das ideias mais difundidas sobre os “later deciders” é que são mais jovens e mais instruídos e com identificações partidárias mais débeis, e isto confere com o que sabemos sobre os eleitorados do CDS e do BE.

O que dizer então da teoria de que a coligação tem um potencial eleitoral ainda por realizar junto dos indecisos? Quatro eleições são só quatro eleições, e nada nos garante que a história se repita uma quinta vez. Mas nas eleições anteriores, ao passo que o CDS parece ter-se dado sempre melhor entre os eleitores que dizem ter decidido no final da campanha, o PSD deu-se sempre pior. Entre ganhos e perdas, a coisa deverá ter sido ela por ela para os dois partidos vistos como um conjunto. As diferenças entre os “early deciders” e os “late deciders” nunca foram dramáticas, e nem sequer em 2002 serviram para mudar o desfecho principal. Em suma, está por provar que os tais “indecisos” sejam tão decisivos como muita gente parece pensar.

One Commment

  1. […] 1. Em eleições legislativas, há uma parcela significativa de pessoas que decidem se vão votar e em quem relativamente tarde. Ou pelo menos é o que elas próprias nos dizem, nos inquéritos pós-eleitorais, que terá sucedido: 9% em 2002, 17% em 2005, 10% em 2009 e 9% em 2011. E isto é em relação ao total de eleitores. Em relação ao total de pessoas que realmente votaram, em 2011, foram 20% os que dizem ter decidido a sua escolha na última semana (e mais ainda em 2005). Logo, por aquilo que as pessoas nos dizem, há uma parcela não irrelevante delas a decidirem tarde. Isto não quer dizer que estas decisões sejam suficientes para mudar o curso de uma eleição: se estas decisões tardias tiverem uma distribuição exactamente igual à das decisões precoces, nada muda. Mas isso não acontece exactamente assim, pelo que sabemos. […]

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