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Pedro Magalhães

Debates e sondagens

Há dias, na RTP-N, Manuel Villaverde Cabral lamentava a falta de sondagens que nos pudessem ajudar a aferir o impacto dos debates. Tem toda a razão. E a verdade é que, em rigor, já existem sondagens sobre os debates. Duas, que eu saiba, até ao momento:

1. Eurosondagem, 5 Dezembro, N=769, Telefónica
Quem ganhou o debate Alegre-Cavaco?
Cavaco: 27,3%
Alegre: 15,7%
Não viu/não sabe/não responde: 57%

2. Eurosondagem, 14 Dezembro, N=757, Telefónica
Quem ganhou o debate Alegre-Soares?
Alegre: 20,7%
Soares: 19,3%
Não viu/não sabe/não responde: 60%

Agora não entendam mal o que vou escrever de seguida. Acho que o esforço financeiro feito pela SIC e o esforço técnico feito pela Eurosondagem para conseguirem conduzir trabalhos como estes em tão pouco espaço de tempo merecem elogios. Mas há alguns problemas.

Em primeiro lugar, quando se fazem inferências para a população, estes resultados sugerem que, por exemplo na sondagem do dia 5, pelo menos cerca de 40% dos portugueses com 18 ou mais anos assitiram ao debate Cavaco-Alegre. Isto não é, nem pouco mais ou menos, credível. Segundo os dados da telemetria – extrapolados para o universo – o debate Alegre-Cavaco teve 1,5 milhões de espectadores. Mesmo que todos eles tivessem mais de 18 anos, isto representa menos de 20% do universo relevante. Estas amostras sub-representam os eleitores que não assitistiram aos debates ou (pior) estão a recolher opiniões de pessoas que, de facto, não lhes assistiram.

Partamos do princípio, no entanto, que essa distorção da amostra não representa um enviesamento da distribuição de opiniões válidas. Mas permanece um problema: que conclusões tirar de semelhante informação? Certamente por razões de tempo, a sondagem nada nos diz sobre a composição política, ideológica ou a mera intenção de voto pré-e pós-debate daqueles que nos deram opiniões sobre “quem ganhou”. E isto seria crucial para apreciar quaisquer efeitos do debate.

Com medição “pré/pós-debate” poder-se-ia aferir em que medida os inquiridos relatam uma mudança na sua intenção de voto após o debate. E mesmo sem este design mais complicado – que exigiria uma vaga de inquéritos antes do debate e outra depois dele e, provavelmente, não detectaria muitas mudanças declaradas – poder-se-ia pelo menos determinar qual a correlação entre preferências políticas e opiniões sobre o debate.

Por exemplo: se aqueles que declararam ter assistido ao debate Cavaco/Alegre correspondessem ao eleitorado de ambos os candidatos estimado pelas mais recentes sondagens (onde Cavaco tem mais eleitores que Alegre à razão de 3 para 1), um score 27/16 a favor de Cavaco teria sido nada menos que desastroso para o primeiro, dado significar que uma parte significativa daqueles que tenciona(va)m votar Cavaco acharam que Alegre ganhou o debate. Contudo, nada sabemos sobre quem deu opiniões sobre quem ganhou o debate a não ser…quem acham que ganhou o debate.

Por muito que se desejem sondagens, estudos como estes dão uma quantidade de informação insignificante em relação ao custo e esforço que certamente implicam. É certo que produzem um item noticioso, e é provavelmente por isso que são feitas. Mas pouco mais são do que isso. Fazer mais e melhor sai muito mais caro e não creio que os meios de comunicação social portugueses disponham de recursos para tal…

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