Divulgações antecipadas
Posted January 7th, 2006 at 5:38 pmNo Comments Yet
Não deve ser fácil para as redacções dos órgãos de comunicação manterem, sequer por poucas horas, confidencialidade sobre dados de sondagens que encomendaram. Um telefonema daqui e dali, a passagem de resultados antecipadamente a candidatos para “obter reacções”, e a coisa está feita: dois minutos depois, metade do país já sabe. Poder-se-ia mesmo defender que, nalguns casos, a transmissão dessa informação aos candidatos é uma obrigação legal, se bem que nada seja dito sobre “comunicação prévia“:
Um pouco mais estranho é que, dois minutos depois da Antena 1 ter anunciado os resultados, o Diário Digital já tivesse alinhado uma notícia completa sobre o tema, com dados não ainda mencionados pela Antena 1, e cujo texto reproduz em vários pontos, ipsis verbis, o relatório de análise dos dados enviado pela Católica à RDP, RTP e Público. Isto significa que alguém do Diário Digital teve acesso a esse relatório. Como? Não faço ideia. Mas nada disto tem grande importância. Se os órgãos de comunicação que encomendam sondagens não conseguem mantê-las sob embargo, o problema é deles e nosso para resolver.
O problema é outro. Quem nos garante que os dados divulgados antecipadamente por outros órgãos de comunicação ou por blogues são os correctos? Quem nos garante que não são postos a circular dados falsos, como meros fins de desinformação? A mim, por exemplo, meia-hora antes do fecho das urnas nas autárquicas, juraram-me a pés juntos que a Eurosondagem ia dar o Carrilho à frente do Carmona na sondagem à boca das urnas da SIC. A coisa cheirava a esturro à distância, mas pode haver casos menos claros. Nos Estados Unidos, por exemplo, vários blogues colocaram durante a tarde do dia das eleições resultados brutos parciais das sondagens à boca das urnas que davam a vitória a Kerry, mesmo antes das necessárias análises e ponderações finais que sempre se têm de fazer. Estão a imaginar o que sucederia, no próximo dia 22, se blogues como o Mau Tempo no Canil começassem a dar resultados parciais de sondagens à boca das urnas porque alguém lhos transmitiu ao telefone, e blogues como o Acidental começassem a amplificar essa notícias porque “a informação já circulava” ou porque “não é só o Jorge Coelho que tem direito” ? Não me parece grande ideia.
Mas o Francisco Trigo de Abreu está mais do que perdoado. Primeiro, porque a quem ele tem de pedir desculpas é a quem lhe lê o blogue, e não a mim (se bem que eu também seja leitor). E segundo, porque quem tem um filho chamado Joaquim, como o meu, dispõe de indulgência automática aqui do Margens de Erro.
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