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Pedro Magalhães

Divulgações antecipadas

Não deve ser fácil para as redacções dos órgãos de comunicação manterem, sequer por poucas horas, confidencialidade sobre dados de sondagens que encomendaram. Um telefonema daqui e dali, a passagem de resultados antecipadamente a candidatos para “obter reacções”, e a coisa está feita: dois minutos depois, metade do país já sabe. Poder-se-ia mesmo defender que, nalguns casos, a transmissão dessa informação aos candidatos é uma obrigação legal, se bem que nada seja dito sobre “comunicação prévia“:

Lei 10/2000, Art. 12.º Comunicação da sondagem aos interessados. Sempre que a sondagem de opinião seja realizada para pessoas colectivas públicas ou sociedades de capitais exclusiva ou maioritariamente públicos, as informações constantes da ficha técnica prevista no artigo 6.º devem ser comunicadas aos órgãos, entidades ou candidaturas directamente envolvidos nos resultados apresentados.

Um pouco mais estranho é que, dois minutos depois da Antena 1 ter anunciado os resultados, o Diário Digital já tivesse alinhado uma notícia completa sobre o tema, com dados não ainda mencionados pela Antena 1, e cujo texto reproduz em vários pontos, ipsis verbis, o relatório de análise dos dados enviado pela Católica à RDP, RTP e Público. Isto significa que alguém do Diário Digital teve acesso a esse relatório. Como? Não faço ideia. Mas nada disto tem grande importância. Se os órgãos de comunicação que encomendam sondagens não conseguem mantê-las sob embargo, o problema é deles e nosso para resolver.

O problema é outro. Quem nos garante que os dados divulgados antecipadamente por outros órgãos de comunicação ou por blogues são os correctos? Quem nos garante que não são postos a circular dados falsos, como meros fins de desinformação? A mim, por exemplo, meia-hora antes do fecho das urnas nas autárquicas, juraram-me a pés juntos que a Eurosondagem ia dar o Carrilho à frente do Carmona na sondagem à boca das urnas da SIC. A coisa cheirava a esturro à distância, mas pode haver casos menos claros. Nos Estados Unidos, por exemplo, vários blogues colocaram durante a tarde do dia das eleições resultados brutos parciais das sondagens à boca das urnas que davam a vitória a Kerry, mesmo antes das necessárias análises e ponderações finais que sempre se têm de fazer. Estão a imaginar o que sucederia, no próximo dia 22, se blogues como o Mau Tempo no Canil começassem a dar resultados parciais de sondagens à boca das urnas porque alguém lhos transmitiu ao telefone, e blogues como o Acidental começassem a amplificar essa notícias porque “a informação já circulava” ou porque “não é só o Jorge Coelho que tem direito” ? Não me parece grande ideia.

Mas o Francisco Trigo de Abreu está mais do que perdoado. Primeiro, porque a quem ele tem de pedir desculpas é a quem lhe lê o blogue, e não a mim (se bem que eu também seja leitor). E segundo, porque quem tem um filho chamado Joaquim, como o meu, dispõe de indulgência automática aqui do Margens de Erro.

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