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Pedro Magalhães

Incerteza 3: ideologia

As campanhas, as pessoas, os eventos e as campanhas contam. Mas os eleitores não partem “virgens” para as campanhas. Têm predisposições, à luz das quais avaliam tudo o resto . Uma dessas predisposições pode aferir-se à luz do seu posicionamento ideológico. E aqui as coisas complicam-se para o PSD.

Este gráfico mostra onde o eleitor mediano se posiciona numa escala de 0 a 10 (em que 0 significa a posição mais à esquerda e 10 mais à direita) e onde o eleitorado português posiciona os partidos (os dados são dos inquéritos pós-eleitorais do projecto Comportamento Eleitoral dos Portugueses):



O PS é o partido do eleitor mediano. PSD é visto como estando longe do centro, e cada vez mais próximo do CDS. Isto é para todos os eleitores. O gráfico seguinte mostra os mesmos dados, desta vez apenas para os eleitores que se descrevem como estando no “centro” (pontos 4, 5 e 6):

Apenas o PS é visto como estando dentro do campo ideológico dos eleitores centristas. PSD à direita, indistinguível do CDS. Boas notícias para o CDS, porventura. Menos boas para o PSD.

Se calcularmos a distância média entre a posição de cada eleitor e a posição que atribui a cada partido, o que vemos?

Distância aumenta desde 2002 para PSD e PS, diminui para pequenos partidos, o que ajuda a explicar as últimas tendências eleitorais. Mas, em média, os eleitores colocam o PSD mais longe das suas posições ideológicas do que o PS.

“Ideologia” é uma coisa complicada que uma posição sumária numa escala de 0 a 10 pode captar mal. Um passo na direcção da especificação da coisa consiste em pedir opiniões sobre temas concretos:

Esquerda, esquerda, esquerda e, na maior parte dos casos, cada vez mais esquerda (se bem que algumas mudanças careçam de significância estatística). Eu sou daqueles que acham que as respostas às sondagens, assim como as respostas às propostas políticas concretas, dependem muito do enquadramento que lhes seja dado. Por outras palavras, eu acho que isto não é um retrato único, perfeito ou inamovível da realidade. Mas que é um retrato mau para um partido de centro-direita, lá isso é.

2 Comments

  1. luiscoentro says:

    é muito limitativo essa perspectiva unidimensional das ideologias

  2. O-Lidador says:

    O retrato parece-me fiel. Penso que este posicionamento ideológico dos portugueses resulta de anos e anos de demonização mediática da “direita”.
    A própria designação dos partidos é sintomática: num país “normal”, um partido social-democrata seria a alternativa de esquerda.
    O CDS designa-se a si mesmo por “Centro” e “social”.

    Há um lastro tramado, na nossa sociedade.
    E uma certa esquizofrenia…as pessoas querem o estado em abstracto, mas deploram os serviços do estado, em concreto. Basta que se lhes pergunte se, podendo escolher, colocaria os seus filhos num colegio privado ou numa escola pública.

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