It ain’t necessarily so…(2)
Posted January 11th, 2006 at 4:12 pmNo Comments Yet
No post anterior com o mesmo título, apresentei alguns aspectos do conjunto de sondagens realizadas desde finais de Outubro até hoje que geram incerteza sobre as medições descritivas que têm feito sobre a realidade. Neste, queria discutir outro tema: o que nos dizem as sondagens feitas até agora sobre o futuro, a votação do dia 22?
Para os mais ortodoxos e defensivos, a resposta é pouco ou nada. As sondagens são descrições e não previsões, etc e tal. Eu acho certamente que dizem alguma coisa. Existem alguns padrões regulares de relações entre os resultados de sondagens e os resultados de eleições. Mas há pelo menos duas coisas para as quais queria chamar a atenção e que impelem a alguma prudência:
1. É uma banalidade dizer-se que sondagens conduzidas mais perto das eleições produzem resultados mais próximos dos resultados eleitorais, o que sugere que as sondagens da próxima semana estarão mais perto desses resultados que as de hoje. Claro. Contudo, a questão não é apenas a de estarem mais perto. A questão é que, por vezes, as últimas sondagens antes das eleições são substancialmente diferentes das sondagens que as precedem. Parte do fenómeno tem a ver com o facto de, simultaneamente, se cristalizarem opções de voto de anteriores indecisos e de esses indecisos serem substancialmente diferentes do resto do universo. Já vimos, por exemplo, como os actuais indecisos são desproporcionalmente compostos por simpatizantes do PS, e isso pode ter consequências.
Mas a outra parte menos conhecida e, talvez, mais importante do fenómeno é que o investimento dos meios de comunicação social e dos institutos de sondagens tende a ser muito maior nas últimas sondagens, precisamente porque se entende que é à luz destas últimas que o seu desempenho vai ser julgado pelo público e pelos clientes. Logo, não surpreende que, na última semana, os resultados dos vários institutos tendam a convergir mais entre si (e com os que vêm a ser os resultados eleitorais) do que sucede nas semanas anteriores. Foi, aliás, o que aconteceu aqui, aqui e aqui, se bem se recordam. Por outras palavras: pela natureza das coisas (a maior proximidade do acto eleitoral) e pela natureza das sondagens (a sua melhor qualidade na recta final), as sondagens da próxima semana vão ser melhores elementos de previsão do que as feitas até agora. E podem (ou não) ser muito melhores. Veremos.
2. Um segundo aspecto a considerar na comparação entre as sondagens e os resultados eleitorais é a abstenção. Em si mesma, a abstenção não é fonte de erro, desde que os que disseram nas sondagens que votariam e depois se abstêm não sejam especialmente diferentes daqueles que acabaram por votar. Contudo, pode haver um candidato ou conjunto de candidatos que sejam particularmente afectados pela abstenção, tratando-se nesse caso daquilo a que normalmente se chama a abstenção diferencial.
Nas sondagens, e em diferentes graus, faz-se um esforço considerável para evitar as distorções resultantes da dificuldade em determinar quem vai votar. Nas sondagens da Católica, por exemplo, os inquiridos são questionados sobre a “probabilidade de irem votar”, e para fim das estimativas, só são considerados aqueles que dizem “ter a certeza que vão votar” (é o método MORI, em versão ligeiramente mitigada). E estou convencido que outros farão um esforço semelhante.
Até agora, que eu saiba, a filtragem dos votantes menos prováveis tem produzido um único efeito: aumentar as intenções de voto em Cavaco Silva e Manuel Alegre, e diminuir as intenções de voto em Mário Soares. Isto é congruente com o que digo aqui há muito tempo, ou seja, o facto de eleições como estas gerarem maior desmobilização entre os potenciais apoiantes de candidatos dos partidos de governo.
Contudo, há uma outra desmobilização potencial: a dos apoiantes do candidato cuja vitória é vista como certa. 2001 foi um caso extremo. Nas últimas sondagens antes das eleições, Jorge Sampaio recolhia, em média, 65,3% dos votos. Teve, no dia das eleições, 55,8%. Bem sei que nada sugere que possamos ter, desta vez, uma abstenção próxima dos 50%. O que está em jogo, do ponto de vista político, é bem maior do que em 2001. O eleitorado de direita não parece, à partida, muito susceptível de se desmobilizar. Mas se querem algo mais comparável (e, mesmo assim, em eleições bem mais divididas e, logo, menos susceptíveis de gerar desmobilização), pensem em 1996. Aí, Jorge Sampaio tinha, nas últimas sondagens antes das eleições, 56,1%. Terminou com 53,8%.
E se, na próxima semana, as estimativas médias para Cavaco, resultantes de sondagens conduzidas, o mais tardar, até à próxima 3ª feira, forem, digamos, 54-55%? Poriam, nesse caso, todo o vosso dinheiro em que não há segunda volta? Sim? Eu não.
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