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Pedro Magalhães

O PSD e as sondagens

Sábado passado, dia de divulgação de uma sondagem pelo Expresso (já aqui tratada), o Secretário-Geral do PSD desafiou todos os partidos a divulgarem o nome das empresas que para eles realizam sondagens, “a bem do rigor, seriedade e credibilidade” e para que, “de uma vez por todas se perceba quais as empresas que um dia trabalham para os jornais e, no outro, trabalham para os partidos” (a notícia do Público assinala que Miguel Relvas se escusou a divulgar no nome das empresas que trabalham para o PSD, mas a verdade é que o fez em frente às câmaras da SIC Notícias: são, segundo o Secretário-Geral do PSD, a Euroteste e a Eurequipa).

Estas declarações vêem no seguimento de muitos outros posicionamentos do PSD sobre este tema, tais como:

– a proposta de proibição de realização de sondagens ou inquéritos de opinião sobre matérias eleitorais a entidades cujos detentores do capital social, membros dos órgãos sociais ou directores ou responsáveis técnicos sejam ou tenham sido membros de partidos políticos nos últimos três anos;

– a preocupação do actual Primeiro-Ministro, quando era ainda candidato à Câmara de Lisboa, com a divulgação de sondagens pela Eurosondagem “em resposta” a uma sondagem da Euroteste (ver aqui);

– a intenção manifestada pelo PSD em 2002 de publicar um “Livro Negro das Sondagens em Portugal“, revelando a forma como, “desde 1991, o PSD tem sido invariavelmente prejudicado” nos resultados.

Como não sou jurista, vou deixar de lado a possibilidade da proposta do PSD, prevendo a incompatibilidade entre a militância partidária e a realização de sondagens, ser inconstitucional, quer pelo lado da limitação de direitos políticos quer pelo lado de limitação da liberdade de escolha de profissão. Também não creio que valha a pena perder muito tempo com o argumento de o PSD ter sido invariavelmente prejudicado pelas sondagens. Se quiserem confirmar a invalidade da acusação, olhem para aqui (.pdf). E de resto, o prometido “Livro Negro” acabou por nunca ser publicado, o que por si só já quer dizer alguma coisa.

O que me intriga é outra coisa: o que faz o PSD supor que o consumo de energias e tempo de antena com esta monomania é eleitoralmente compensador? Num estudo de 2002, realizado pelo ICS, 73% dos inquiridos afirmavam ter “pouca” ou “nenhuma” confiança nos partidos, enquanto que apenas “44% deles afirmavam ter “pouca” ou “nenhuma” confiança nos institutos de sondagens. Bem ou mal, justas ou injustas, as percepções são estas. E posto isto, o que pensa o PSD poder ganhar ao chamar ainda mais a atenção para resultados que lhe são manifestamente desfavoráveis, e nos quais os eleitores parecem confiar mais do que nos próprios partidos? Mistério.

E há outro mistério que gostava de decifrar. Ontem, depois de atravessar o viaduto Duarte Pacheco na direcção de Lisboa, julguei vislumbrar um novo outdoor do PSD onde se mostrava um gráfico com os resultados de várias sondagens, indicando uma linha ascendente do PSD (repetindo, aliás, outdoor semelhante já usado nas autárquicas por Santana Lopes). Pareceu-me que uma das sondagens cujos resultados visavam validar esta curva ascendente era uma sondagem do Expresso. Da Eurosondagem. Não pode ser. De certeza que vi mal. Ou não?

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