Presidenciais 2
Posted September 5th, 2005 at 11:10 amNo Comments Yet
Para Vital Moreira, a vantagem da separação da esquerda em três candidaturas presidenciais consiste em permitir que Soares fique livre para disputar o eleitorado do “centro” ao passo que PCP (Jerónimo de Sousa) e BE (Francisco Louçã) consolidam posições “à esquerda”. Assim, os dois “eleitorados” (“de centro” e “de esquerda”) são mobilizados para impedir a vitória de Cavaco à 1ª volta, para logo depois tudo convergir em Soares na 2ª volta.
Eu acho que isto tem a sua lógica. Mas também acho que essa lógica depende da validade das nossas pressuposições sobre o que causa o comportamento de voto em eleições presidenciais. VM acha que, fundamentalmente, os eleitores em eleições presidenciais votam por candidatos que melhor representam as suas “posições ideológicas”. Pode ser que assim seja.
Mas o que sucede se as presidenciais não forem sobre exactamente (ou apenas) sobre isso? O que sucede se as presidenciais tiverem a tendência para se transformarem num referendo à actuação do governo, à situação do país, ou até numa mera decisão sobre a conveniência de colocar em Belém alguém de um partido diferente do governo?
Se assim for, Soares pode perder ao apresentar-se como mero candidato “do PS” ou “do governo”, ónus que diluiria claramente ao apresentar-se como o candidato de todo o centro-esquerda alternativo a Cavaco (condição na qual, aliás, já se apresenta, mas que é dificilmente sustentável ao longo dos próximos meses, supondo eu que era isto que Ricardo Costa queria dizer aqui). Se assim for, nada garante que, no cômputo geral da esquerda (e da possibilidade de evitar o 50%+1 de Cavaco), as perdas do “candidato do governo” sejam compensadas pelos ganhos que podem advir de ter o BE e o PCP envolvidos na corrida presidencial.
Claro que o que eu acabo de escrever também só tem lógica na medida em que se pressuponha que a votação de Soares será directamente afectada pela popularidade do governo, que essa popularidade está em queda, e que os governos tendem a ser penalizados neste tipo de eleições (especialmente quando elas têm lugar fora dos períodos de “lua de mel”). Pressuposições, é o que temos… Logo se verá.
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