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Pedro Magalhães

Quem são os indecisos?

De um e-mail de um leitor:

Penso que neste caso específico a redistribuição proporcional dos indecisos não será uma boa opção. Parece-me que o facto de a candidatura de Cavaco ser bastante consensual à direita (ninguém de direita manifesta qualquer intenção de se candidatar para além de Cavaco) reduz muito a indecisão nesse eleitorado. Já no caso da esquerda, a existência de tantos candidatos é geradora de uma maior indecisão. As candidaturas de Alegre e Soares são importantes fontes de indefinição no eleitorado de esquerda.

Esta situação leva-me a pensar que a esmagadora maioria dos ainda indecisos se irá distribuir pelos candidatos da esquerda (e eventualmente pela abstenção) e muito spoucos por Cavaco. Esperar, como se deduz pela redistribuição dos indecisos na sondagem da Euroexpansão, que cerca de 8% dos 15% de indecisos vão optar por votar Cavaco parece-me francamente exagerado. Os indecisos estão à esquerda e se esta os souber conquistar, Cavaco não ganha as eleições. Ou seja, Cavaco não vai ganhar as eleições, a esquerda é que as poderá perder.

Parece-me plausível a ideia de que a indecisão é maior entre o eleitorado potencial dos candidatos de esquerda, especialmente o eleitorado do PS, como sugeri aqui. Mas para apreciar a validade da ideia, seria importante ver quais as identificações partidárias ou posicionamentos ideológicos (aqueles que os têm e declaram) dos que agora se dizem “indecisos”, e apurar se a sua distribuição está significativamente mais “à esquerda” do que a da restante população que indica uma intenção válida de voto. A ficha técnica da Eurosondagem dá ideia que esse tipo de questões não foi colocada. No caso da Aximage, fica claro que essas questões são colocadas, mas não me recordo de alguma vez ver essa análise. Outro ponto importante, claro, é que estas percentagens de “indecisos” muito provavelmente subestimam a percentagem real de eleitores que não têm uma decisão tomada acerca de em quem irão votar. Isso sucede porque há uma parte “submersa” do eleitorado que não surge nas sondagens: as recusas, ou seja, aqueles que recusam fazer parte da amostra.

Mas por outro lado, nada garante que a “indecisão”, seja a medida nas sondagens seja a “real”, se converta em “voto” à última da hora. Muita dessa “indecisão” acaba por desembocar em abstenção. Assim foi, por exemplo, nas legislativas de 2005: um estudo de painel feito pela Católica para o Público, a RTP, a RDP e o ICS mostra que mais de um terço das respostas “não sabe/não responde” à pergunta sobre intenção de voto em Janeiro de 2005 acabaram por redundar, em Fevereiro (e na base das declarações dos próprios) em abstenção.

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