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Pedro Magalhães

Sobre o voto económico

No seguimento do que escrevi 2ª feira passada, duas notas:

1. Num artigo muito recente, Pedro Adão Silva menciona que “há uma hipótese da sociologia eleitoral que tem revelado assinalável potencial explicativo e que nos diz que os eleitores sabem distinguir os partidos em função das suas prioridades e que, em períodos de maior desemprego e crise social, votarão mais à esquerda e em períodos de maior inflação e dificuldades financeiras, votarão mais à direita.”

Aquilo a que o Pedro se refere é ao chamado “voto económico prospectivo”. Ao contrário do que sucederia com o “voto económico retrospectivo” – em que os partidos de governo, e eventualmente mais os de esquerda – seriam prejudicados pelo desemprego, no “voto económico prospectivo” a hipótese é que os partidos de esquerda poderiam ser beneficiados pelo desemprego, sugerindo que os eleitores votam a pensar na forma como situações actuais podem ser resolvidas por políticas futuras.

Um dos aspectos mais interessantes deste livro tem precisamente a ver com este assunto e com alguma clarificação que é trazida a este respeito: o que eles concluem é que os efeitos do desemprego são diferentes consoantes a dimensão dos partidos de esquerda. “Grandes” partidos de esquerda no governo são castigados pelo desemprego. Partidos de esquerda “pequenos” são beneficiados pelo desemprego. Não sei se era bem nisto que o Pedro estava a pensar…

2. Ninguém percebeu ainda muito bem as “micro-fundações” do mecanismo através do qual os eleitores castigam os governos pelo mau desempenho da economia. Uma das conclusões que – pelo menos a mim – geram mais perplexidade é o facto de, quando usamos inquéritos, as avaliações que os inquiridos fazem da situação económica do país ter consequências muito maiores no voto que a avaliação da situação económica pessoal. Há quem diga que isto sinaliza “altruísmo”e grande responsabilidade dos eleitores, mas acho que há para aqui muita endogeneidade (a avaliação da situação económica é muito explicada por simpatias partidárias, e há muita racionalização das respostas nos inquéritos, mas enfim).

Seja como for, se for mesmo verdade que os eleitores retiram muita da informação sobre a economia dos media, então o que há a esperar até 2009 é um combate ferocíssimo sobre a interpretação dos números. Aqui vai haver imenso trabalho e espero que detectem as contabilidades criativas de ambos os lados. E vai valer muito a pena reler este clássico.

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